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quinta-feira, 25 de junho de 2009

Irã, outra "revolução orquestrada" pelos EUA?

Atualizado em 21 de junho de 2009 às 22:15 | Publicado em 21 de junho de 2009 às 19:52

O clímax de dois anos de desestabilização
Irã, outra "revolução colorida" orquestrada pelos EUA?

por Paul Craig Roberts*, em Counterpunch

Vários comentaristas têm manifestado crença inabalável na pureza de intenções de Mousavi, de Montazeri e da juventude ocidentalizada de Teerã. É como se o plano da CIA, de desestabilização, noticiado há dois anos, nada tivesse a ver com o desenrolar dos eventos de hoje.

Tem-se repetido que Ahmadinejad roubou votos, porque o resultado foi apresentado depressa demais, em tempo que teria sido insuficiente para que os votos fossem contados.

Mas, de fato, Mousavi foi o primeiro a declarar vitória, apenas algumas horas depois de encerrada a votação. É procedimento 'clássico' da CIA, para desacreditar resultados eleitorais que não sejam os 'desejados'. A CIA sempre apressa a declaração de vitória. Quanto mais tempo houvesse entre uma declaração 'preventiva' de vitória e a liberação das tabelas oficiais de votos apurados, mais tempo Mousavi teria para criar a impressão de que as autoridades eleitorais, responsáveis pelas eleições, estariam alterando as tabelas de apuração. O mais engraçado é que tantos finjam que não veem o truque e o golpe; menos engraçado é que sinceramente não os vejam.

Quanto à acusação de que a eleição foi roubada, feita pelo Grande Aiatolá Montazeri, ele foi o candidato inicialmente escolhido para suceder Khomeini; perdeu a disputa para o atual Líder Supremo. Para Montazeri, os protestos são ocasião perfeita para 'acertar as contas' com Khamenei. Em todos os casos seria bom negócio para Montazeri contestar as eleições, seja ele controlado pela CIA ou não – e a CIA tem longa história de sucessos no aliciamento de políticos derrotados em eleições perfeitas.

Está em curso uma luta pelo poder entre os aiatolás. Vários estão alinhados contra Ahmadinejad, porque o presidente os tem acusado de corrupção; assim, Ahmadinejad joga para a platéia de eleitores do interior do país, onde a interpretação mais 'popular' dos princípios do islamismo exige que os aiatolás vivam por padrões de equilíbrio e sobriedade, sem excessos nem de poder político nem de dinheiro.

Pessoalmente, acho que há algo de oportunismo nas denúncias feitas por Ahmadinejad; mas oportunismo é uma coisa; outra, completamente diferente, é a repetição incansável, em todos os jornais e televisões norte-americanas, de 'análises' que 'comprovam' que Ahmadinejad não passa de político conservador, reacionário e 'cúmplice' dos aiatolás.

'Analistas' e 'colunistas' e 'especialisttas' têm 'explicado as eleições Irãianas a partir de suas (deles e delas) pessoais ilusões, fantasias, desejos e emoções... além de, é claro, seus (deles e delas) interesses de vários tipos.

Embora haja pesquisas confiáveis que indicavam há várias semanas que Ahmadinejad seria eleito por diferença "acachapante", é claro que isso não implica que as eleições não tenham sido fraudadas. Mas, sim, há muitos indícios, altamente confiáveis, de que a CIA trabalha, sim, há mais de dois anos para desestabilizar o governo Irãiano.

Dia 23/5/2007, Brian Ross e Richard Esposito noticiaram no canal ABC News: "A CIA recebeu aprovação secreta da Casa Branca para montar uma operação "negra" para desestabilizar o governo Irãiano, informaram à rede ABC News oficiais da ativa e da reserva da comunidade de inteligência."

Dia 27/5/2007, o jornal London Telegraph, citando outras fontes, noticiou: "O presidente Bush assinou hoje autorização para que a CIA construa campanha de propaganda e desinformação com vista a desestabilizar, e eventualmente destituir, o governo teocrático dos mulás."

Alguns dias antes, o Telegraph noticiara, dia 16/5/2007, que um dos neoconservadores e senhores-da-guerra do governo Bush, John Bolton, declarara ao Telegraph que um ataque militar dos EUA ao Irã "seria a última opção, caso não dessem resultado nem as sanções econômicas nem as tentativas para fomentar agitação de rua e levante da população nas cidades."

Dia 29/6/2008, Seymour Hersh escreveu, na revista New Yorker: "No final do ano passado, o Congresso aprovou pedido do presidente Bush para liberar verbas para uma grande escalada nas operações secretas de inteligência contra o Irã, conforme informam fontes militares, do serviço secreto e do Congresso. Essas operações, para as quais o presidente Bush solicitou 400 milhões de dólares, foram apresentadas em documento ("Presidential Finding") assinado por Bush e visam a desestabilizar o governo religioso do Irã."

Parece evidente que há manifestantes sinceros nos protestos de rua em Teerã. Mas há também muito evidentes sinais que são como marca registrada da CIA, já observados na Georgia e na Ucrânia. É preciso ser completamente cego para não os ver em Teerã.

Daniel McAdams anotou sinais interessantes. Por exemplo, o neoconservador Kenneth Timmerman escreveu um dia antes das eleições, que "fala-se de uma 'revolução verde' em Teerã". Como Timmerman poderia saber de uma 'revolução' que só começaria dois dias depois? A única explicação é que conhecia os planos da CIA.

E por que haveria uma "revolução verde" já preparada desde antes das eleições... sobretudo se Mousavi estivesse certo de que seria 'eleito'? Não há como fugir da evidência de que, sim, os EUA trabalharam para criar os protestos pós-eleitorais que se veem hoje em Teerã.

Timmerman chega a escrever, bem claramente, que “[a ONG] National Endowment for Democracy gastou milhões de dólares na promoção de revoluções "coloridas" (...). Parte desse dinheiro parece ter chegado às mãos dos grupos pró-Mousavi, que têm laços com organizações não-governamentais fora do Irã financiadas pela [ONG] National Endowment for Democracy." A própria ONG neoconservadora de Timmerman, Foundation for Democracy, é "organização privada, sem finalidades lucrativas, fundada em 1995 a partir de doações da ONG National Endowment for Democracy, NED, para promover a democracia e o respeito aos direitos humanos no Irã."

* Paul Craig Roberts foi secretário-assistente do Tesouro durante o governo Reagan. É coautor de The Tyranny of Good Intentions. Recebe e-mails em PaulCraigRoberts@yahoo.com

O artigo original, em inglês, pode ser lido aqui.

3 comentários:

Crazy Diamond disse...

Um texto muito mais sobrio que o la de baixo.
Tenho uma outra analise interessante, estou sumarizando dois textos diferentes escritos por iranianos sob diferentes perspectivas.
Mais tarde, por aqui...

Alfredo de França disse...

Entendo, o outro texto é um pouco radical mesmo. Lembra vagamente os textos de sindicalistas... rs.

Ansioso para ler..

;-)

Até!

Darth Magnus disse...

Vejo no Irã e sua atual situação pós-eleição fatos que indicam ações externas e reações internas, fatos estes que fazem parte de toda a história mundial, nada mais comum e rotineiro.
É impossível para qualquer regime, por mais fechado que seja, manter para sempre os olhos de seus cidadãos cegos e alheios ao mundo externo. Isso é fato. Basta apenas que um tenha acesso a algo, que esta história e sensação de liberdade (que muitas vezes não passa de pura ilusão do “mundo moderno”) se espalhe como um mito de esperança. É como uma pequena faísca que, por mais fraca que seja, pode incendiar toda uma floresta.
Seguindo ainda no exemplo da faísca, sabemos que se esta faísca ocorre num dia chuvoso, com a mata totalmente verdejante da primavera, nada ocorrerá. Talvez algumas raízes e folhagens fiquem chamuscadas, mas um incêndio, quase impossível. Para que esta faísca tenha algum efeito, precisamos de um clima propício, talvez o outono ou o verão, e, parece a mim, o Irã se encontra numa destas estações.
O Irã depois de anos de guerra contra Iraque, vê, pelos olhos de sua população, a irmã inimiga cair aos pés do “império do mal ocidental” e, que num momento de transição imposto por seus dominadores (ou libertadores dependendo da opinião de cada um), vive uma confusa busca pela liberdade, mas que está sendo sangrentamente contestada por grupos radicais. Creio eu que tudo fique bem confuso aos olhos iranianos, ainda mais quando o ocidente oferece tantas possibilidades novas, que passam a ser confundidas com liberdade.
Os poucos que têm acesso a esta visão, grupo geralmente formado por jovens através da internet, vêem ali a saída para a liberdade, a saída de um regime totalitário onde clérigos, geralmente sexagenários pra frente, de visão restrita, orquestram a vida de todos e os mantém ali “presos” a tradições que parecem somente guiá-los por caminhos que não levam a nada, que não concedem a eles jovens, a real oportunidade de uma vida “boa”.
E tem toda a questão econômica da coisa. O Irã é um país fechado, com aproximadamente 70 milhões de habitantes. Um mercado gigantesco para que qualquer país ocidental tenha interesse numa abertura econômica. Os EUA são grão-mestres nesta artimanha de “dividi-los para conquistá-los” e nada mais natural em fazê-lo quando o alvo é um grande potencial de mercado, mesmo que usem a desculpa já tão desgastada de “liberdade e democracia”.
Certos e errados são difíceis de apontar. O certo seria não se envolver em questões internas de um país injusto e tão diferente em cultura? Ou se envolver para tentar impor a liberdade e democracia ocidental e destruir toda uma cultura milenar? Mas esta questão não importa mais. O sentimento de liberdade ocidental está plantado no Irã, não sei por quem e nem o quanto EUA e UE tiveram influência, mas as coisas nunca mais serão a mesma. Vejo que num futuro próximo o Irã será transformado numa republica do islã, aberta economicamente e culturalmente ao ocidente, sofrendo de atentados terroristas com freqüência, mas mostrada ao mundo como um povo feliz que alcançou sua liberdade após anos de regime totalitário.
O que podemos fazer? Assistir a tudo e torcer para que as vitimas desta transição iniciada não se tornem apenas números incontáveis e descartáveis numa equação já tão bem conhecida aqui, onde o forte sempre vive e o povo sobrevive pagando as contas.