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sábado, 12 de março de 2011

SUS - Mistura de boa intenção com sonho de verão.

Pois é amigos, depois de muito tempo ausente deste blog, se é que um dia foi de fato uma pessoa presente (rsrs). Venho falar um pouco sobre esse desmoralizado SUS após 1 ano estando no olho do furacão de uma USF (unidade de saúde da família).

De inicio, devo dizer que sou atendente-sus de uma USF há 1 ano (completo agora em 15/03/11) num bairro da cidade de Guarulhos-SP. Esta unidade contempla uma população de cerca de 21000 habitantes, onde 84% destes são dependentes do SUS para realizarem suas consultas, exames, agendamentos e afins. Sendo que parte destes vive em condições precárias, em locais de risco, sem saneamento básico e uma serie de outras coisas que os tornam um tanto carentes e revoltados (mesmo que estupidamente se revoltem com pessoas que nada tem a ver com os seus problemas). Basicamente, uma unidade de saúde é concebida "apenas" para prevenção. Esta é a palavra!! PREVENÇÃO. Sejam de epidemias (com mapeamento de risco da região) ou no acompanhamento de distúrbios comuns de saúde. Nesta unidade onde trabalho, somos em 6 atendentes apenas para toda essa demanda alucinada de pessoas querendo consultas, que me parece às vezes pura falta do que fazer. Pessoas sem a menor necessidade de passar em consultas medicas querem passar todos os meses para fazerem exames de rotina. Enquanto que hipertensos e diabéticos (prioridades no programa da saúde) ficam sem consultas pelo limite da agenda medica. Infelizmente, o sistema não é informatizado, não temos como levantar essas informações de forma rápida e precisa para evitar estas consultas desnecessárias da forma como gostaríamos ou como deveríamos.

Cartão SUS é um problema a parte. Pois muitos pacientes têm vários números de cartão SUS porque a prefeitura de Guarulhos usa o sistema JSaude para geração de cartão SUS. Sistema esse que é uma verdadeira porcaria. Pois alem de totalmente lento e burocrático, o numero de cartão SUS gerado neste sistema JSAUDE, demora semanas para ser reconhecido no SISREG, que é por onde agendamos as consultas com os especialistas (Cardiologista, Urologista, Dermatologista, etc. etc.). Ironicamente o Sistema UNICO de Saúde não tem nada de unificado. Sistemas em conflitos, prefeituras usando cada uma um sistema diferente como bem entendem e isso acaba sempre prejudicando o bom andamento da unidade.

As equipes de trabalho são outro problema, pois não são poucas as vezes que um encaminhamento medico não está corretamente/completamente preenchido, ou então um paciente não é corretamente encaminhado por outro profissional da unidade, como enfermeiros ou auxiliares de enfermagem. Cabendo sempre e quase exclusivamente ao atendente-sus "arredondar" o serviço porco dos outros funcionários da unidade. E isso acontece porque é mais rápido resolver isso ali do que sair do balcão, ir até o profissional, solicitar a correção de seu erro e depois retornar ao balcão para prosseguir no atendimento.

Eu sempre escutei que o SUS não presta ou que o SUS demora anos para agendar uma consulta. Bem, o SUS provavelmente seja parte do reflexo da população ao qual é dirigida. Pois mês a mês, o numero de faltosos em consultas agendadas com especialistas ficam na casa de 25% a 30%. É simplesmente ridículo. Pois os pacientes são os primeiros a reclamarem da demora e da ineficiência, mas são os últimos a terem responsabilidades com os seus agendamentos. Simplesmente "esquecem" do problema que outrora era motivo para se fazer um barraco na unidade. Estes mesmos pacientes são carregados praticamente no colo para comparecerem aos postos de saúde para que a unidade tenha produtividade perante o ministério da saúde. E isso não acontece por interesses de saúde, com real preocupação com as pessoas, mas apenas para que se lhes ocorrerem algo grave de saúde, a unidade esteja resguardada se houverem cobranças de órgãos superiores. Isso efetivamente atrapalha o funcionamento do sistema se imaginarmos isso numa escala nacional. Pois quantos funcionários e quanto tempo não é desperdiçado com pessoas desinteressadas e irresponsáveis que fazem o que bem entendem porque o SUS "é de graça".

Vale dizer que alguns pacientes vão sim aos postos de saúde, mesmo que sem interesse real no que os médicos ou enfermeiras têm a dizer apenas por receberem o beneficio do bolsa família (que é um assunto no qual não vou nem entrar para não desvirtuar a postagem) e são OBRIGADOS a comparecerem na unidades com suas devidas crianças para acompanhamento para que continuem a receber o seu beneficio.

Os números e a produção são importantes para demonstrar desempenho satisfatório (ou não). Mesmo que estes números possam chegar de forma distorcida e inferiorizada aos interessados devido a não informatização do SUS.

Aqui vão alguns números diários da unidade onde trabalho especificamente:
- 40 exames de sangue agendados por dia, 4 dias/semana
- 50 agendamentos de especialidades no sistema (solicitações)
- 5 médicos com 22 atendimentos agendados (110 no total) marcados diariamente
- dos 110 atendimentos, grande parte sai da consulta com pedidos de exames para serem agendados
- 40 a 50 exames ou especialidades agendadas pelo órgão regulador da secretaria mediante solicitação previa. Sendo que ainda é competência do atendente SUS ligar para todos os pacientes para comunicar do agendamento.

Além disso, ainda temos:
- atendimentos gerais (retiradas de receita, orientações, marcações de consulta, etc.)
- inalações, vacinas, medicações
- curativos

Obs: no ultimo dia 1º de março, dia no mês onde são abertas as agendas medicas, 500 pessoas compareceram ao longo do dia na unidade para agendar (contados em senha).

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Com todos estes dados, situações e problemas enfrentados no dia a dia, não é de estranhar que muitos desistam, ou muitos façam corpo mole no trabalho. Pois realmente não adianta você se desdobrar para os pacientes. Eles não respeitam o profissional, apenas esperam a primeira oportunidade para apontar o seu erro. E se aliarem isso ao funcionalismo publico (geralmente conhecidos pela “vida mansa” decorrente da estabilidade profissional), não é difícil de imaginar porque muitos serviços públicos não funcionam da forma como deveriam. Pois chega um momento em que não se tem mais motivação nenhuma para se empenhar, um momento onde não se consegue perceber mais a diferença entre trabalhar duro ou não fazer nada. Os resultados não mudam. A infra-estrutura é precária. Os ideais do SUS, se fossem seguidos a risca, fariam deste sistema algo quase perfeito, sem carências. O duro é aguentar cobranças descabidas de um ministério que não fornece condições aos seus funcionários de realizá-las.
Alias, a impressão que tenho ao longo da minha experiência, é que, independente de quantos anos se passem, o SUS sempre estará correndo atrás do prejuízo. Sempre haverá maior demanda de serviços do que é possível realizar, não me referindo apenas as consultas, mas também as outras funcionalidades de uma Unidade Básica de Saúde.

Por fim, apenas para me posicionar nesta conversa toda, o SUS evidentemente não é ótimo e talvez nem bom seja (ainda). Porem, não é essa porcaria toda que costumam falar. O SUS tem muito a melhorar, sempre terá o que melhorar independente do quão bom esteja. Mas talvez, estes índices negativos não seriam tão gritantes se pacientes não fossem inconsequentes e ocupassem vagas desnecessárias de pessoas que realmente precisam e se preocupam com a própria saúde, assim como a conscientização do governo sobre os investimentos aplicados na saúde. De certo não resolveria todo o problema, mas é muito provável que melhoraria muito a eficácia de todo o sistema de saúde. É isso...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Carnaval

Faço minhas vossas palavras.