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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Guerra Fria no Oriente-Medio

Muito se discute sobre o que acontece no Oriente Médio porém o foco está sempre no conflito entre Israel e Palestina, ou as falacias de Ahmadinejad no Irã. De fato muito mais relevante para a região e vastamente ignorado pela mídia ocidental é a guerra fria entre Irã e Arabia Saudita.

Em 1922, Winston Churchill, discursou sobre os efeitos do pós-guerra na Europa. Ele dizia que “[g]randes impérios foram derrotados. Todo o mapa do continente mudou, os modos de pensar dos homens, e a perspectiva sobre as coisas.” Mas, continuou, “mas conforme a enchente vai sendo controlada e água para de cair, vemos novamente os telhados escuros de Fermanagh e Tyrone emergirem novamente.” Churchill fazia menção a situação da Irlanda naquele momento.

Há neste momento um retorno de um velho padrão quando analisamos a revelação do esquema Iraniano para assassinar o embaixador saudi em Washington. Essas revelações jogam certa luz em um fato crucial que vem sendo deixado de lado, embora seja parte inerente da “Primavera Arabe”. Para ser mais claro, por toda espontaneidade e apelo popular visto nos últimos meses nos países árabes, há contornos políticos da região que nunca mudaram. Conforme as revoltas e manifestações vão sendo contidas e a situação vai se normalizando, essas velhas estruturas políticas vão retornando a cena.

O conflito de idéias entre Irã e Arabia Saudia forma a dinâmica central da maior guerra fria da região; a mesma que definiu o Oriente Médio nos anos recentes. O Irã tem buscado construir sua popularidade deixando claro sua antipatia por Israel, e consequentemente os EUA. Mas a principal estratégia da república islâmica está longe de ser banhada pelo Mediterrâneo, de fato está mais ao sul, no Golfo Pérsico. O país é o mais populoso da região e também possui o maior exército. Dominar a área é uma questão natural. Tehran tenta usurpar o posto dos EUA como força de segurança nas rotas de energia do golfo. Essa ambição, por sua própria natureza, vai contra os interesses do maior beneficiário das forças americanas na região – a Arabia Saudita.

Além do aspecto político/econômico, essa fricção entre os dois países é acentuada e reforçada por divisões sectárias e ideológicas. A socidade saudi tem uma postura ultra conservadora que demoniza os muçulmanos xiita (predominante no Irã). Riyadh vem há muito tempo ridicularizando o regime iraniano, chamando-os de agentes da discórdia no mundo islâmico. Enquanto Khomeini descreve a monarquia saudi como heréticos e repulsivos. Essa rivalidade vem influenciando diretamente as revoltas na região, embora nem sempre de maneira clara.

Quando a maioria xiita no Bahrain começou a se agitar, os saudis perceberam certa influência iraniana ali. Um novo regime em Bahrain que estivesse em linha com Tehran significaria controle da costa oeste do golfo. Essa nova manifestação também foi vista como uma tentativa do Irã de espalhar a filosofia xiita em direção a maioria sunni do leste e sul da península. Os saudis não pensaram duas vezes, enviaram as forças armadas e acabaram com as manifestações quando estas mal haviam começado.

Na Síria, os saudis percebem que as revoltas são uma tentativa sunni de derrubar um regime herético, apoiado pelas forças iranianas. Evidentemente que a queda de Assad na Síria é vista como uma vitória estratégica para Riyadh e há claras ligações entre o reino árabe e algumas forças radicais sunni no país, sem contar o fato de que os arabes foram os primeiros a retirar seu embaixador e denunciar Assad. Obviamente o Irã também percebe as implicações desastrosas que a queda do atual regime poderia causar e, consequentemente, não mede esforços para preservar a atual situação.

No Líbano, claro, o proxy iraniano Hezbollah é procurado pelo tribunal que investiga a morte do cidadão saudi e antigo Primeiro Ministro libanês Rafiq al-Hariri em 2005. Evidentemente que dando suporte a oposição ao regime de Assad na Síria, Riyadh espera isolar o Hezbollah de sua maior fonte de apoio e armamento, deixando o grupo sem recursos.

No Iraque, com a eminente saída americana, é provável que saudis e iranianos vão trocar farpas, e talvez um pouco mais, pela influência na região. O governo xiita em Baghdad já mantém relações próxima a Tehran, enquanto é sábido que o governo iraniano dá suporte a mílicias e grupos xiita no país. Em contrapartida, Riyadh mantém ativamente os grupos sunni de oposição e a presença americana na região tem servido como um impedimento para uma ação mais direta. Com o crescimento da influência xiita no governo e a retirada das tropas americanas, é provável que a postura da Árabia Saudita seja mais agressiva.

Aparentemente o Irã ganha essa batalha facilmente. Embora tenham perdido crédito no mundo árabe ao apoiarem o regime de Assad, isso pode ser revertido com novos confrontos com a América ou Israel. O programa nuclear continua progredindo apesar de sanções internacionais e constantes suspeitas, o regime parece estável e o país vai aumentando sua influência na região. Enquanto os saudis só podem oferecer algum risco as ambições iranianas enquanto aliados dos EUA e de Israel.

A guerra fria entre os dois países tem sido um dos fatores determinantes na política no Oriente Médio muito antes das manifestações de 2011, e tem sido também um elemento ativo no curso das mesmas até o momento. No Bahrain e na Síria, os saudis estão vencendo logo a fúria e frustação iraniana em seu desejo de atacar o adversário não chega a ser uma surpresa. Conforme a maré baixa, os minaretes de Riyadh e Tehran aparecem novamente.