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domingo, 18 de outubro de 2009

José Saramago usa Caim para atacar Deus

Caim, o primogênito de Adão e Eva que matou o irmão Abel, mais parece um personagem da ilha do seriado "Lost" nas mãos de José Saramago em "Caim", romance que é publicado mundialmente nesta semana.

Isso porque, além de cumprir, como na versão bíblica, a condenação do senhor de vagar de modo errante pelo mundo após um monstruoso crime, Caim também viaja no tempo.

O escritor português faz com que o personagem visite várias passagens do Antigo Testamento. Sempre de modo repentino. Sem se dar conta, Caim dorme e acorda em épocas e situações diferentes.

Com esse recurso, Saramago logra fazer com que esteja presente na provação de Abraão, na condenação de Sodoma e Gomorra, no episódio do bezerro de ouro de Moisés, na casa de Jó. Para finalizar, Caim também participa -- e altera -- a saga de Noé e a Arca.

O propósito do escritor Prêmio Nobel não é muito desconhecido dos leitores. O que o protagonista faz, em cada passagem deste engenhoso e bem humorado romance, é questionar Deus e cada uma das decisões por ele tomadas.

Caim expõe o que vê como maldade, injustiça, obsessão pela violência e inverosimilhanças de diferentes ordens em vários momentos.

"Caim é o que nasceu para ver o inenarrável, caim é o que odeia deus", escreve (os nomes dos personagens são apresentados sempre em letra minúscula, de propósito).

O novo ataque à religião do ateu Saramago surge quase 20 anos depois da polêmica desencadeada por "O Evangelho Segundo Jesus Cristo". A versão do português, cheia de ciladas contra Deus, criou um mal-estar com o governo do país, que o impediu de candidatar-se a um prêmio europeu de literatura. Saramago então abandonou Portugal e foi viver na ilha espanhola de Lanzarote.

Em entrevista à Folha, por e-mail, Saramago explicou que o tema de Caim era uma antiga preocupação, e que não há vínculo direto entre este e a controversa história de Cristo que catapultou-o à fama internacional e consolidou as convicções antirreligiosas do escritor.

Saramago reforçou o que havia dito em sabatina realizada na Folha em novembro de 2008. Na ocasião, afirmou que a Bíblia não era um livro que se poderia deixar nas mãos de um inocente, pois só conteria maus conselhos, assassinatos, incestos. Agora, segue na pregação: "À Bíblia eu chamaria antes um manual de maus costumes. Não conheço nenhum outro livro em que se mate tanto, em que a crueldade seja norma de comportamento e ato quase natural."

Deus é chamado de "filho da puta" com todas as letras em "Caim". Esse senhor "rancoroso" admite a culpa pelo crime contra Abel, não hesita em estimular guerras, matar crianças inocentes, punir os bons e fazer com que as pessoas acreditem em situações improváveis. Como é possível um homem embriagado engravidar uma mulher? Como todos os animais do planeta poderiam ter sido representados na Arca de Noé? São algumas das perguntas que Caim se faz ao observar a trama bíblica.

Saramago diz que, por meio dele, tenta expor a "infinita dimensão da estupidez humana", capaz de acreditar em fábulas como essas. "Curiosamente, não se repara que Deus não fez nada durante a eternidade que precedeu a (suposta) criação do universo. Depois, não se sabe por que nem para que, resolveu fazer um universo. E desde então está outra vez sem fazer nada", conclui.

Produtividade

Às vésperas de completar 87 anos, Saramago anda numa fase muito produtiva. Depois de "Viagem", lançou, em julho, "O Caderno", com textos escritos para o blog (blog.josesaramago.org), e já pensa no próximo.

"Simplesmente, ainda tenho algumas coisas para dizer. Talvez com mais urgência porque o fim da minha vida se aproxima. Estou a escrever um novo livro que nada tem que ver com os imediatamente anteriores."

Um comentário:

Alfredo de França disse...

Justifico meu comentário tardio neste post tão interessante. No mês de outubro/novembro estive reformando minha casa e por isso não consegui acompanhar o blog, por isso só agora vou comentar:

Saramago é genial, sem palavras para descrevê-lo. Pena que aqui no Brasil ele não seja tão popular, as pessoas deveriam lê-lo mais, quem sabe assim o povo daqui iria pensar menos como "cordeiro" e mais como "pastor" de suas próprias vidas.

É engraçado ver ele falar que o bíblia é uma fábula, pois realmente é, não vejo diferença nenhuma entre a bíblia e a história do Papai Noel, por exemplo. Mas o pior de tudo é que as pessoas acreditam e vão continuar acreditando por muito tempo...