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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Não basta apenas uma cidade limpa

A PREFEITURA de São Paulo está desperdiçando uma oportunidade para aprofundar os efeitos de seu bem-sucedido "Cidade Limpa". Ao anunciar a permissão de publicidade em mais de 9.000 pontos de ônibus e relógios, o governo vende muito barato um espaço raro e cobiçado após a proibição dos outdoors. Barcelona, que retirou milhares de outdoors nos anos 80, conseguiu restaurar mais de 600 fachadas de prédios históricos com uma política mais esperta.
Lá a ideia é simples: quem patrocina um restauro ganha o direito de estampar o seu logotipo na lona de proteção da obra por um ano. Uma comissão seleciona os edifícios a serem recuperados -de igrejas centenárias a obras de Gaudí, de prédios dos anos 30 e 40 a construções renascentistas. O primeiro beneficiado foi um hospital da "belle époque" e sua restauração foi patrocinada pela Chandon. Além de colocar sua marca na obra, a empresa francesa ainda mereceu cerimônia de agradecimento em frente ao prédio histórico com a presença do prefeito barcelonês.
São Paulo poderia adaptar a ideia. Com a permissão de publicidade, grandes empresas poderiam recuperar as fachadas de edifícios emblemáticos, como Copan, Martinelli, Sampaio Moreira, Eiffel, Esther, Triângulo, Anchieta e Trussardi, que imploram por um "lifting".
Sem ter muitos espaços onde anunciar, esse visível e positivo merchandising ainda associa a marca das empresas à recuperação de ícones paulistanos. Trinta prédios importantes do Centro que fossem recuperados simultaneamente poderiam causar uma transformação que dezenas de projetos de revitalização na área ainda não conseguiram. Ao longo dos anos, Barcelona aperfeiçoou sua política. Como nem todos os edifícios históricos ou arquitetonicamente relevantes estão em lugares muito visíveis, a prefeitura catalã fez uma troca. Hoje se permitem lonas publicitárias durante a construção de alguns prédios novos em locais de grande movimento -mas os recursos apadrinham o restauro de prédios históricos em outros cantos. A publicidade em condomínios em construção no Morumbi ou na marginal Pinheiros poderia financiar a recuperação da Vila Itororó, de casarões do Bixiga, da Barra Funda, dos Campos Elíseos.

Ainda feia
Nada contra pontos de ônibus, relógios e demais mobiliário urbano. Mas seria bem mais benéfico que o retorno da publicidade ao espaço público de São Paulo continuasse casado com a reabilitação da paisagem. Retirar os outdoors de forma corajosa e sem concessões demonstrou ao paulistano que algumas iniciativas que não demandam bilhões de reais podem ter efeito imediato na percepção que temos da cidade. Mas, com a saída dos luminosos e dos outdoors, São Paulo deixou à mostra fachadas carcomidas, um emaranhado de fios e de velhos aparelhos de ar-condicionado em primeiro plano, a arquitetura canhestra de décadas de ausência de debate arquitetônico e de cuidados com a pele da cidade. São Paulo ficou mais limpa, mas isso não bastou para lhe dar beleza. Sua feiura afugenta não apenas turistas, mas potenciais investidores. Em tempos nos quais o mercado imobiliário continua a despejar monstrengos arquitetônicos por toda a cidade, com o beneplácito do poder público, e quando as poucas árvores das marginais vão ao chão para criar mais pistas para carros, seria bom ver que o governo municipal não se satisfaz apenas com uma cidade limpa.

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