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sábado, 8 de março de 2008

Quem é brasileiro?

As notícias de brasileiros que foram barrados em países europeus não param de se multiplicar, e a história, salvo alguns detalhes, é sempre a mesma, seja qual for o destino. Após serem barrados no desembarque dos aeroportos, os brasileiros são obrigados a responder uma infinidade de perguntas e cumprir uma série de exigências, logo após são jogados em uma sala onde aguardam por horas sem receber nenhuma informação e, depois, são repatriados sob o pretexto de não atenderem as exigências mínimas para a permanência no país.

Não há dúvida de que se trata, em grande parte, de preconceito por parte destes países. Acredito mesmo que em muitos casos os brasileiros deportados não devem ter apresentado toda a documentação e cumprido todas as exigências, mesmo porque ao que parece as exigências são muitas e parecem crescer sempre no sentido de dificultar o acesso, ao contrário da justificativa de assegurar que o visitante tenha condições próprias de subsistência.

Sem dúvida que essa situação toda é um absurdo sem precedentes, que além de tudo causa mais indignação ao lembrarmos que o Brasil com certeza recebe todos visitantes, de todas as origens, de braços abertos como o Cristo, exageradamente abertos. Aliás, não só os braços estão sempre abertos como também outras partes menos pudoradas, haja vista que qualquer americano ou europeu que apareça por aqui dispõe de relativa facilidade para “conquistar” qualquer companhia.

Contudo, temos que observar que as recentes atitudes dos países desenvolvidos em barrar os brasileiros, apesar de injustificável, não surgem ao acaso ou pura e simplesmente por preconceito. Os brasileiros constituem, em muitos países da Europa, um dos principais grupos de imigração, onde os mesmos muitas vezes lá permanecem de maneira ilegal, contribuindo significativamente para o aumento do índice de desemprego nesses países. Tentam de toda maneira entrar e por lá permanecer, as histórias são as mais mirabolantes e, o que me assusta, mais e mais freqüentes. É difícil encontrar um brasileiro aqui no Brasil que não conheça pelo menos uma pessoa que foi viver no exterior e, ao mesmo tempo, é quase impossível não conhecer pelo menos uma pessoa que tenha planos de abandonar o Brasil para ir viver em outro país desenvolvido.

Eu mesmo tive essa intenção de migrar temporariamente do Brasil rumo a um país qualquer que fosse desenvolvido e me possibilitasse algum ganho capital. É uma situação difícil e complicada, ter consciência do significado de um ato como esse diante do contexto histórico atual e mesmo assim querer fazê-lo. Contudo, meus planos eram de ir, trabalhar e voltar. Não considerei seriamente, em momento algum, viver no estrangeiro para sempre, não acho que conseguiria fazer isso. Acabei desistindo diante das dificuldades e da consciência da conseqüência geopolítica desse ato. Porém, não critico indiscriminadamente aqueles que tomaram essa decisão para si, pelo menos não todos. Acredito que a busca por condições dignas de sobrevivência fala mais alto e que cada um é senhor de si para fazer o que quiser. O assustador nessa história toda é ver as consequências no âmbito macro estrutural, ou seja do Brasil como um todo.

Em minha profissão tenho contato com muitos jovens, centenas deles, e isso me possibilita fazer observações quanto à sua mentalidade coletiva. Fico espantado ao perceber que um número muito grande dos alunos planeja, a médio e curto prazo, migrar para a Europa ou Estados Unidos, ao mesmo tempo em que não nutre identificação nenhuma com seu país de origem, ou seja, o Brasil. Alunos de oitava série, na média de quinze a dezesseis anos, já possuem planos elaborados para migrarem assim que atingirem a maioridade, e contam com o apoio de parentes e amigos, que já moram no exterior, para concretizar suas intenções.

Não há dúvida que toda essa questão é resultante de um processo de globalização onde o indivíduo é cada vez mais induzido a se considerar um “cidadão do mundo” e cada vez menos “cidadão da pátria de origem”. Isso não surge ao acaso, de fato, constitui um dos principais argumentos do imperialismo cultural que objetiva dominar nações em desenvolvimento e planificar culturas a seu favor, para logo em seguida implantar sua dominação econômica e ser aceito por toda a sociedade. Ora veja, o brasileiro vive imerso numa cultura que não é a sua. Músicas, filmes, roupas, modas, restaurantes, enfim, o próprio jeito de viver, o tal do “american way of life” domina o brasileiro desde o momento em que esse começa a pensar e interagir com o mundo. No momento de analisar qualquer característica de seu país, o brasileiro sempre o faz em comparação com os Estados Unidos ou algum país europeu. É natural que, ao crescer numa sociedade assim, o indivíduo queira abandonar suas origens e partir rumo a uma terra que ele erroneamente identifica como sendo mais próxima culturalmente dele.

O meio para comprovar isso é muito fácil, basta perguntar para uma multidão, como em uma sala de aula, o seguinte, “Quem é brasileiro?” Surgirão muitas respostas, e com certeza alguns dirão coisas do tipo, “Eu não sou brasileiro, sou neto de italianos!”, “Sou filho de japonês!”, “Meu avô é alemão!”, “Sou filho de espanhol!” etc. Poucos se identificam com essa terra, poucos querem usar o rótulo “brasileiro” e mais, poucos não se sentem ligeiramente decepcionados ao terem que preencher sua nacionalidade numa ficha qualquer. O brasileiro, como disse Darcy Ribeiro, na verdade, ainda guarda em seu interior o mesmo conflito de identidade que o primeiro mameluco teve. Filho de índio com português não se sentia enquadrado entre os índios, porque não era índio, nem entre os portugueses, porque não era português. Diante dessa situação, o indivíduo acabou partindo para o lado que mais lhe favorecesse, sem contudo sentir-se identificado com nada. A pergunta que esse indivíduo certamente fez, se repete até hoje inconscientemente na mente de muitos brasileiros, “Quem sou eu?”.

Ser brasileiro, virou sinônimo de ser alguém, sem pátria, sem terra, sem escrúpulos, sem comprometimento e mais, alguém eternamente a procura de um lugar, qualquer lugar, onde haja dinheiro, muito dinheiro e melhores condições de vida.

Não é de se estranhar que sejamos barrados pelo mundo inteiro. E mais importante ainda, não e de se estranhar tamanha corrupção e descompromisso de todos para com o Brasil, o que dificulta sobremaneira qualquer tentativa de desenvolvimento.

5 comentários:

Crazy Diamond disse...

Soh um detalhe equivocado em sua analise, o Brasil nao recebe assim de bracos tao abertos todo e qualquer visitante.
O senhor ficaria horrorizado se visse o tamanho da fila da imigracao no desembarque internacional, visto que os oficiais exigem muitas coisas para conceder vistos de turista, embora obviamente eh mais facil ao europeu ou americano provar que nao estah interessado em ficar trabalhando ilegalmente no brasil ou coisa assim do que o contrario mencionado em seu texto.
Para o americano eh ainda mais complicado porque ele precisa aplicar para receber o visto no consulado brasileiro mais proximo, o que toma tempo e dinheiro, e ha diversas reclamacoes em relacao ao tempo que se espera pelo visto (ok, eh reciproco).
Alem do mais, tambem ao passar pelo desembarque internacional voce ficaria talvez incredulo ao ver o numero de imigrantes bolivianos, angolanos e chineses que sao impedidos de entrar no pais, ficam aguardando sentados de frente ao restante dos passageiros que passam (humilhados, de certa forma, pq qualquer sabe que eles estao sendo investigados pois sao suspeitos), ali passam horas, sem receber qualquer informacao e muitas vezes mais tarde sao repatriados sob a desculpa de que nao tem fundos suficientes para a viagem que alegam estarem fazendo ou coisas assim.
Eu nem vou mencionar a burocracia que o estrangeiro tambem tem ao receber o visto no guiche do aeroporto e tendo que, mais tarde, ir na policia registrar, pagar mais uma taxa, para receber uma papelada que serah, na verdade, sempre exigida junto do passaporte. Trabalhar entao? Nem pensar! Estudar no pais? Burocracia tremenda...
Eh... eu tambem nao sabia dessas coisas.

Crazy Diamond disse...

P.S.: Desculpe as falhas do texto, estou num cybercafe, sem muito saco para revisar e contando com um teclado sem acentos.

Alfredo de França disse...

Não sei cara, mas acredito que, apesar dessa burocracia toda e da dificuldade que certamente deve existir, a dificuldade para entrar no Brasil não é tão grande. Recentemente, li uma reportagem especial da Folha de São Paulo, onde um reporter foi para a Bolivia e, se passando por Boliviano, tentou entrar no Brasil para trabalhar e morar aqui. A facilidade foi tremenda, conseguiu emprego de costureiro com a comunidade boliviana e moradia fácil, fácil, sem nada de visto. Minha mãe costura panos de prato para um boliviano que já trouxe a família inteira para o Brasil. E como vc mesmo sabe, ao andar pela Santa Ifigênia e região, podemos facilmente notar que algumas ruas são praticamente dominadas por africanos das mais diversas origens, sem contar os coreanos... Essa semana, li também na Folha que o número de deportações nos aeroportos brasileiros no ano passado ficou em torno de 170 (ou 270, não me recordo muito bem) e o próprio delegado da PF que foi entrevistado disse que aqui as regras são mais brandas. Não sei cara, mas tenho fortes motivos para acreditar que as deportações realizadas em nossos aeroportos são mínimas comparadas com o que o Brasil sofre em relação ao mundo inteiro.

Ao que parece, apesar das longas filas nos guichês dos aeroportos, como você mesmo relatou, a maioria ainda consegue entrar e ficar no Brasil.

Contudo, agora que essa questão está causando polêmica (só agora), a coisa está mudando, e diariamente tenho visto notícias de imigrantes ilegais sendo deportados pela Polícia Federal.

Darth Magnus disse...

Caras, acho que em ambas as situações, brasileiros lá fora e estrangeiros aqui, sofrem alguma coisa para entrarem em seus países objetivo.

No entanto, o que ocorre é que lá fora parece ter um maior rigor contra aqueles que entram de forma ilegal, o que está correto. O país é soberano para admitir quem ele quiser em seu território e aqueles que querem ali estar, devem sim seguir estas regras.

No Brasil, infelizmente, parece haver, como em quase tudo aqui, um desleixo em valorizar o que é nosso. Poucos se importam em verificar para quem está se alugando uma casa ou se dando um emprego.

Se o número de imigrantes ilegais aqui é maior, é fato também que nossas colossais fronteiras terrestres estão ligadas a países mais pobres que o nosso, facilidade que os brasileiros não encontram para entrar nos países desenvolvidos, sendo restrita quase sempre aos aeroportos deles.

Também é fato que com os incidentes na Espanha, ocasionados devido a uma influência política dos ultimos dias antes da eleição por lá, no Brasil também parece ter se aberto um pouquinho os olhos, visto o ultimo dia 06/03, onde a PF prender 120 imigrantes ilegais.

Então acho que está elas por elas. Se você quer ir para fora de seu país, tem que se sujeitar as suas regras, aceitando-as ou não e, se não seguí-las e for pego, vai pagar pela transgressão. Quanto a vir aqui para o Brasil, basta seguir as regras também, mesmo que sejam estas menos rigorosas.

Sobre a falta de amor em "ser brasileiro", é verdade. Maioria das pessoas parecem ter medo de assumir que são brasileiras, achando que isso as incluiria em meio a tanta corrupção e descaso. Mas elas esquecem que quem faz a nação é seu povo. E se este pouco se importa com isso, dificilmente teremos uma nação melhor.

Polícia detém 120 imigrantes ilegais
http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL340958-5605,00.html

Crazy Diamond disse...

Bom, como disse o Claudio, fica elas por elas. Se no Reino Unido, por exemplo, onde ha um rigor muito grande no aeroporto, ajuda ainda o fato do pais ser uma ilha, ser pequeno e distribuir multas de £10000 para quem empregar "ilegais" voce ainda ter uma comunidade imensa de imigrantes ilegais com trabalho e anos de residencia.