Um bom momento para refletir sobre o que passou, e o que possivelmente irá acontecer no próximo ano, afinal, tudo irá começar de novo, o trabalho, a correria, a busca da realização de objetivos, e todo besteirol que já sabemos.
Então fiquei pensando sobre algo que é fundamental para o desenvolvimento de nossa sociedade, ou seja, a educação. E como esse assunto está em voga por essas bandas, decidi republicar um artigo que escrevi para o "Vôo de Ícaro" a cerca de um ano atrás. Para aqueles que já o leram, fiquem calmos, não se trata de simples reprise, o artigo está revisado, reeditado, e com uma mensagem mais acessível. Para quem ainda não o leu, leia!
As referências bibliográficas e conceitos de filosofia não são meros caprichos pseudo-intelectuais meus, mais do que isso, são singelas recomendações a todos.
E tenham todos um ano novo repleto de senso crítico!

Black Spiral Dancers
Sendo observada a transparência na relação educador-educando, onde não existe autoritarismo e sim companheirismo*, os resultados acabam sendo muito proveitosos, e prazerosos. Acho que nunca tive uma experiência que me ensinasse tanto sobre a natureza dos homens e sobre a condição alienante das massas, dominadas pela idéia sufocante de um senso comum emanado de uma ideologia desumanizadora, provinda de uma elite no mínimo idiota.
Às vezes, sentado diante da típica mesa de professor, observo atentamente, quase que num devir filosófico, os alunos copiarem a matéria recém passada por mim na lousa. É uma coisa horrível, lêem, copiam no caderno e esquecem. Trata-se de um processo automático de eliminação de conteúdo, como se a história fosse algo exterior às suas naturezas, que se tornaram tristemente consumistas e movidas por sonhos de Daslu. É o resultado perfeito e frio do conceito de "Vigiar e Punir" de Michel Foulcault**, o Estado como perpetuador da desumanização das massas.
Mas é claro que isso não é algo que faz parte da natureza dessas pessoas. Elas são condicionadas, oprimidas, sufocadas, literalmente moldadas para agirem dessa maneira, ou mais do que simplesmente agirem assim, são transformadas numa espécie de “não ser” parmenidiano. A pessoa vive apenas no ínfimo e medíocre espaço de tempo presente, o passado reduz-se apenas a experiências pessoais que se tornaram dignas de algum destaque por raros momentos de prazer ou longos períodos de dor, quanto ao futuro, é resumido pela expectativa do próximo pagamento, do próximo capítulo da novela, ou da missa do próximo domingo. Diante disso, o mundo resume-se simplesmente a sua existência mórbida, movida únicamente pela inércia da sobrevivência. Pensar em si como um ser no mundo, como um ser coletivo, que é responsável pelo que acontece no mundo e que também pode mudar o destino das coisas parece ser algo quase impossível.
Isso faz eu lembrar da Espiral Negra de Werewolf***, com seus tentáculos, abraçando tudo e todos, envolvendo o mundo na estagnação e decadência da alienação, do desejo consumista e imediatista, do esquecimento do ser e da consciência crítica.
Não é nada fácil ir contra tudo isso. Aliás, praticamente ainda não existe uma maneira efetiva de se mudar o caótico cenário atual, no que diz respeito à formação do indivíduo. De um lado temos o estado neoliberal, que destrói toda tentativa de humanizar o ensino, através de um descaso característico nas definições de verbas do orçamento para a educação entre outras coisas. De outro observa-se as tentativas frustradas de estados que tentaram alcançar o comunismo no decorrer da História e que, invariavelmente, tornaram-se igualmente desumanizadores ao criar cidadãos doutrinados e condicionados à uma subserviência automática aos mandos e desmandos de um estado autoritário e igualmente opressor.
Ora, o que fazer diante disso? Boa pergunta...
* FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido.
** FOULCAULT, Michel. Vigiar e Punir
*** HAGEN, Mark Rein. Werewolf, the Apocalipse.
Pintura: Salvador Dali, Geopoliticus Child Watching the Birth of Man.